Irmã M. Nilza Pereira da Silva

59 anos; Jornalista; Atibaia/SP-Brasil; Instituto Secular das Irmãs de Maria de Schoenstatt

Que experiências marcaram sua vida como mulher?

Entre tantas experiências, escolho essas: Minha educação numa família de seis filhos: três homens e três mulheres, onde aprendi o respeito às diferenças e a complementação entre os meninos e as meninas: todos aprendemos a fazer de tudo e havia escala para todos os serviços. O respeito entre nós, a valorização da mulher, sem desvalorizar o ser masculino, marcou a minha vida!

Contudo, minha maior descoberta, da plenitude do ser mulher, Deus presenteou-me quando conheci a Juventude Feminina de Schoenstatt. Os momentos de reflexão e a atmosfera pelos ambientes bem cuidados abriram-me para o encontro com a beleza, a grandeza e a missão do ser feminino. Até então, eu pertencia a grupos de juventude paroquial e nesses grupos havia muita tensão entre eles e elas. Quando Deus me fez encontrar a Mãe de Deus, como mulher, a espiritualidade de nosso Pai e Fundador, Pe. José Kentenich, sua visão sobre a mulher e o estilo mariano de Schoenstatt, isso tocou inteiramente a minha alma e deu-me linhas diretrizes para toda a vida. Lembro-me, por exemplo, que no primeiro congresso, quando conheci a Juventude Feminina, eu havia levado somente calças jeans e descobri a beleza da veste feminina. Cheguei em casa, coloquei uma saia e disse para minha mãe, que era costureira: “Por favor, preciso de saias e de vestidos!” Eu estava tão feliz por ser mulher e isso se irradiava, acho que eu simplesmente “brilhava”. Em breve, todas as minhas colegas passaram a usar mais saias, sem que eu falasse nada. É claro que a roupa não é tudo, mas, para mim, era o sinal externo de que eu realmente havia me descoberto na beleza e no sentido de ser mulher! Foi a experiência mais forte, a “de encontro”, podemos dizer assim, de meu ser feminino.

Como estudante de jornalismo e no mestrado de filosofia também pude vivenciar como o meu ser feminino dá-me um olhar diferente da perspectiva do olhar masculino para os fatos e para as tempestades de ideias. Ali pude confirmar o quanto é necessário a profundidade de reflexão do ser feminino, como complementar ao modo de pensar masculino. Meus colegas homens tinham um modo de refletir mais distante da vida e minha reflexão era tão profunda como a deles, mas, conduzia sempre para o sentido da vida, conduzia para a pessoa. Nas avaliações, as notas confirmavam que o modo de reflexão da mulher é necessário para a área acadêmica, se quisermos que o resultado de nossas pesquisas contribua para o desenvolvimento da pessoa e não fiquem somente em divagações no campo das ideias.

Nos muitos anos de trabalho com a Mãe Peregrina, pelas centenas de dioceses e milhares de paróquias, tive vivencias lindas de complementaridade entre a missão do sacerdote e da religiosa na orientação pastoral, que resultava nos frutos da atuação da Mãe de Deus como auxiliar de Cristo. Tudo isso, entre tantas outras, são riquezas de experiências que Deus me deu e que marcaram a minha vida, como mulher.

Onde em sua vida a senhora fez a experiência de Deus?

Em primeiro lugar, em minha família, na qual Deus sempre foi um Pai presente, com qual nos relacionávamos com muita naturalidade. Depois, pela espiritualidade de Schoenstatt, complementada pelas atividades pastorais em minha paróquia, quando pude me confrontar com os desejos de Deus para a minha vida. Quando conheci Schoenstatt e o Santuário, sua espiritualidade e pedagogia, tudo o que eu havia vivenciado e os anseios que trazia no coração se encaixaram, como peças de quebra-cabeças, e encontrei o profundo sentido de tudo o que tinha experimentado. Era visível que Deus estava interferindo na minha vida, de modo muito amoroso. A decisão pela minha vocação também foi uma profunda experiência de diálogo com Deus, de uma profunda saudade que eu tinha dele e de sua proximidade, num irresistível chamado de amor, era uma experiência de luta entre a minha liberdade e seu chamado e, no fim, a sua vitória.

Os momentos em silêncio diante do sacrário, o ser aquilo que de fato sou, diante de Jesus, desde a minha juventude, são fortes experiências de comunhão de meu ser criatura com o Deus de Amor.

Aproximar-me do Pe. José Kentenich e conhecer o seu carisma paterno e profético dado por Deus, a santidade de sua vida, ouvir relatos de pessoas que conviveram com ele e ler suas conferências também me deram uma grande experiência do amor paterno de Deus e de sua atuação permanente. Posso dizer seguramente que Pe. Kentenich é para mim o rosto e o vínculo que me une a Deus e faz-me experimentar pessoamente a ternura de seu amor, que Cristo veio anunciar.

Há muitas outras experiências da paternidade de Deus presente e atuante, que se antecipa e me surpreende com seu amor incondicional. Mas, só consigo perceber isso, quando faço a experiência de colocá-lo em primeiro lugar no meu cotidiano. São as experiências de reservar tempo para o silêncio e a oração, de rezar até mesmo quando não tenho vontade, que tranquilizam os meus sentidos para perceber Deus presente, tanto na natureza como nas pessoas, para experimentar que Deus também se manifesta também pelos algoritmos digitais – trabalho com jornalismo online – onde se encontra bons resultados de tantos corações generosos que partilham seus saberes e suas experiências. É Deus quem tem a programação e a linha de todos os desenvolvimentos e mudanças da história em suas mãos.

O que a senhora considera o desafio para as mulheres hoje?

Para mim, o maior desafio que as mulheres enfrentam hoje é ser ela mesma, viver de modo terno e objetivo, segundo os princípios que Deus infundiu de modo inato em nossa natureza. Ter clareza do papel e do valor da mulher, da dignidade do ser humano, é algo que exige muito, nesse tempo marcado por informações ideológicas. Vivemos em uma batalha de ideias e de emoções, somos bombardeadas por discursos e apelos emotivos: alguns edificantes e outros manipuladores e mentirosos. A cada clique, encontramos uma tempestade ideias e apelos em linguagens fortes, algumas bonitas e atraentes, outras violentas. Saber distinguir as reais intenções e as verdades e decidir-se pelo correto exige muita clareza de inteligência, um arraigamento muito firme em princípios fundamentais e, muitas vezes, a força e coragem de ir sozinha em linha contrária da maioria das pessoas, até mesmo das mais próximas, com quais nos vinculados afetivamente.

Viver a verdade nesse tempo, sem perder a ternura, é só para mulheres fortes. É preciso muito equilíbrio interior, com o suporte do Espírito Santo e a certeza de se ter um lar no coração de Deus, o que para mim se dá por meio da Aliança de Amor com Maria. Sem esse arraigamento, não há como ter coragem para amar sem medo e tomar decisões objetivas.

O que a senhora quer mudar no mundo por meio de sua vida?

Quero dar a minha contribuição para que, juntos, edifiquemos uma nova sociedade, que vive com liberdade o seu direito de amar e ser amado. Quero contribuir para que as pessoas tenham fortes e sadios vínculos com Deus, com as pessoas e com a natureza. Que cada pessoa realize plenamente aquele traço de semelhança com Deus, infuso em sua natureza: Seja o que de fato é.

Por minha vida consagrada, como Irmã de Maria, quero fazer isso, tornando Maria presente no cotidiano, porque nela Deus se irradia e Ela é o modelo de perfeitos vínculos. Quem se vincula a Ela abre o coração e é transformado por Deus.

Meu trabalho na comunicação, como jornalista, possibilita contribuir para isso, pelo contato com milhares de pessoas e o empenho para preencher os espaços digitais de mensagens que podem ajudar na formação de opiniões e fortalecer laços de amor para com Maria e, por meio dela, estreitar o vínculo com Deus, com as pessoas e o cuidado pelo mundo. Pelas ofertas ao Capital de Graças, uno meus sacrifícios aos de milhares de outros irmãos na Aliança e, juntos, colaboramos para que o mundo seja mais santo, mais aberto para a atuação do amor de Deus.